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Por Hydro Brasil 4 de Janeiro de 2025

 

A crescente integração de fontes renováveis no sistema elétrico não pode prescindir de hidrelétricas, diz a Academia Nacional de Engenharia

Usina Hidrelétrica de Belo Monte
Usina Hidrelétrica de Belo Monte

Nos últimos anos, a participação relativa das hidroelétricas na geração de energia elétrica nacional tem diminuído gradualmente, em grande parte devido ao aumento da capacidade instalada de fontes renováveis e à resistência à construção de novas usinas hidrelétricas. No entanto, apesar desse declínio, as hidroelétricas continuam desempenhando um papel fundamental na garantia do suprimento energético, especialmente por sua capacidade de regularização e de fornecer serviços ancilares essenciais para a estabilidade do sistema, afirma a Academia Nacional de Engenharia (ANE), em documento encaminhado ao Poder Legislativo, denominado Posicionamento sobre a importância das usinas hidrelétricas para O Sistema Interligado Nacional (SIN).

De acordo com a ANE, a transição para um modelo energético mais limpo e sustentável, embora necessária, traz consigo novos desafios. A crescente intermitência da geração de energia proveniente de fontes solar e eólica exige maior flexibilidade do sistema elétrico e novas soluções para o armazenamento de energia. As hidroelétricas, com seus reservatórios, oferecem uma solução natural para esse problema, mas a expansão desse tipo de geração também enfrenta obstáculos, como questões ambientais e sociais.

Flavio Miguez, coordenador do documento, afirma que o país se defronta com um ambiente de crescente instalação de geração renovável não controlável e intermitente, que necessita de complementação de unidades geradoras despacháveis como hidroelétricas ou termoelétricas, estas últimas mais dispendiosas e mais poluentes.

O sistema interligado, segundo ele, tem características de difícil operação, com forte tendência de extrema complexidade no atendimento de demanda no curto prazo. De evolução de desligamentos de unidades geradoras e dificuldades de atendimento por intermitência de geração não controlável e não programável, com efeitos na segurança de suprimento e de intensa elevação de tarifas, principalmente para o mercado cativo.

Nessa linha, acrescenta Miguez, a saída para essa situação é o pesado investimento em armazenamento de energia que era obtido no passado, pela implantação de usinas hidroelétricas com reservatórios de regularização, projetos esses que há mais de três décadas não mais têm sido implantados.

“As alternativas, prossegue o coordenador do documento, são as usinas térmicas que sujam a matriz energética, a instalação de baterias e a implantação de usinas hidroelétricas reversíveis que presentemente é a solução mais adotadas em diversos países que já não dispõem de locais para implantação de hidroelétricas com reservatórios de regularização. Essas usinas reversíveis consomem energia, mas são capazes de fornecer energia nas horas de maior demanda. Apesar da nossa engenharia ser amplamente capaz no segmento de hidroeletricidade e de termos tido quatro reversíveis implantadas pela Light há mais de setenta anos, presentemente sequer dispomos de regulação para este tipo de usina, embora haja pleno reconhecimento da sua urgente necessidade. Por esses motivos, a ANE emitiu o posicionamento que demonstra a necessidade de voltarmos a instalar hidroelétricas convencionais e reversíveis”

Se o planejamento do setor elétrico passar a prever a implantação de hidroelétricas, Miguez afirma que o país não atingiu nem a metade dos potenciais inventariados. “Há grandes potenciais como o aproveitamento hidroelétrico de São Luiz do Tapajós, por exemplo, de 8.040 MW a serem instalados, que muito poucos países chegam perto disso”, acrescenta.

A fim de garantir a segurança energética e a transição para um futuro mais sustentável, o Brasil, segundo a Academia, precisa investir em diversas frentes:

Novas tecnologias de armazenamento de energia: Baterias e outras tecnologias de armazenamento são essenciais para otimizar a utilização das fontes renováveis intermitentes e garantir o suprimento de energia em momentos de pico de demanda.

Hidroelétricas reversíveis: Essas usinas podem atuar tanto como geradoras quanto como consumidoras de energia, contribuindo para a estabilidade do sistema e otimizando a utilização das fontes renováveis.

Serviços ancilares: É fundamental reconhecer e remunerar adequadamente os serviços ancilares prestados pelas hidroelétricas, como o controle de frequência e tensão, que são essenciais para a segurança do sistema elétrico.

Uso múltiplo dos reservatórios: Os reservatórios das usinas hidrelétricas podem ser utilizados para diversas finalidades, como controle de cheias, irrigação, navegação interior e abastecimento de água, trazendo benefícios socioambientais e econômicos.

Planejamento energético integrado: É necessário um planejamento energético de longo prazo que considere a integração de diversas fontes de energia, a flexibilidade do sistema e a necessidade de garantir a segurança energética.

Produzido pelo Comitê Permanente de Energia da ANE, além de Miguez, o documento teve a colaboração de Altino Ventura Filho, Eduardo Serra, Jerson Kelman, José Eduardo Moreira, Maria Elvira Maceira, Mário Menel, Nelson Martins, Paulo Sehn e Paulo Gomes.

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