Ernesto Lopes da Fonseca Costa

Atual ocupante: José Paulo Silveira

Posse: 1997

 

Ernesto Lopes da Fonseca Costa nasceu em Petrópolis, a 22 de junho de 1881, vindo a falecer no Rio de Janeiro, em 14 de dezembro de 1952. O Instituto Nacional de Tecnologia INT fez publicar, em 1953, um volume em sua memória, que dá uma visão bastante completa de sua formação e de seu papel na vida do Instituto.

Segundo a biografia, de autoria de lvan Lins, era filho do engenheiro Caetano Pinto da Fonseca Costa e de D. Ernestina Lopes da Fonseca Costa, irmã de Ildefonso Simões Lopes, Ministro da Agricultura por ocasião da criação da Estação Experimental de Combustíveis e Minérios. “Descendia de uma das famílias mais tradicionais do Império, pois era neto do Marechal João da Fonseca Costa, Visconde da Penha e bisneto do íntimo amigo do Duque de Caxias, Manoel Antônio da Fonseca Costa, Marquês da Gávea.” Era ainda irmão do Contra-Almirante Aires da Fonseca Costa, através de quem “confiou à Marinha a construção da fábrica de canhões da Ilha das Cobras” Outro irmão, Caetano Lopes da Fonseca Costa, era chefe de gabinete do tio e Ministro Ildefonso Simões Lopes.

Nascido de uma linhagem militar e de engenharia, Ernesto Lopes da Fonseca Costa seguiria os mesmos passos: formou-se como engenheiro geógrafo em 1911 e como engenheiro civil em 1913, pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro, atual Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em 1928 tomou-se professor catedrático da cadeira de Metalurgia da mesma escola, sucedendo a Ferdinand Laboriau. Sua família não lhe havia deixado, aparentemente, fortuna, e Sílvio Fróes Abreu o descreve, nos primeiros anos de formado, como “um rapaz como tantos outros, formado na mais afamada escola de engenharia do país, à cata de um emprego, cheio de teorias e animado por ideais elevados, mas vazio completamente de experiência”. Vindo de Minas, o engenheiro Francisco Sá Lessa recorda que Fonseca Costa participava de "um pequeno grupo de moços, acolhedores e generosos que, como eu, iniciavam os estudos de engenharia na velha e gloriosa Politécnica” era "um grupo de elite, que devia seguir unido até o fim do curso de engenharia civil e continuar triunfante pela vida afora, sempre solidário e amigo, tanto nos momentos felizes como nas horas de provação” Othon Leonardos lista alguns dos nomes deste grupo, que se tornariam mais tarde professores da Politécnica: Sebastião Sodré da Gama, Otacílio Novaes da Silva, Gualter de Macedo Soares, Edmundo Franca do Amaral, Francisco Sá Lessa, Augusto Paranhos Fontenelle, Allyrio Hugueney de Mattos e o próprio Fonseca Costa.

Recém-saído da Politécnica, Fonseca Costa teria uma curta experiência no setor privado que não era muito comum para os de sua geração, e que, segundo Sílvio Fróes Abreu, lhe deixaria uma influência indelével: foi o trabalho na Usina Química Rio “Ouro, montada durante a Primeira Guerra Mundial em um primeiro esforço de substituição de produtos importados, forçada pelo bloqueio alemão ao país. Ali, trabalhou com Júlio Lohmann, químico holandês "formado na Alemanha e treinado em Java” e que teria sido, ainda segundo Fróes Abreu,”formador da primeira geração de químicos diplomados no Brasil", da qual fazia parte o próprio Fróes. Havia um interesse pecuniário que ajudava a motivar a Fonseca Costa, Ademar de Faria e Francisco Sá Lessa nos trabalhos da Usina. No entanto, a Usina foi um fracasso do ponto de vista econômico e não sobreviveu à normalização do mercado ao final da guerra.

Para Fonseca Costa, no entanto, "a convivência com Lohmann deu-lhe o gosto pela química, que conservou a vida inteira; o contato com os problemas da produção industrial imprimiu-lhe uma maneira real de encarar as questões tecnológicas que lhe granjeou um justo prestígio como conselheiro e consultor técnico do Governo nas mais variadas questões no campo da produção nacional”. Mas sua verdadeira iniciação se daria pela aproximação com Gonzaga de Campos, diretor do Serviço Geológico, feita através de Ildefonso Simões Lopes. Segundo todos os depoimentos, a influência de Gonzaga de Campos, formado em Ouro Preto na tradição de Henry Gorceix, teria sido decisiva, não só pessoalmente, como também pelo ambiente existente no Serviço Geológico.

Segundo o depoimento de Sílvio Fróes Abreu, “Fonseca Costa tornou-se discípulo de Gonzaga, intermediário que o grande geólogo patrício utilizou para pôr em prática seus grandiosos projetos de beneficiamento de carvão, de fabricação de coque, de criação da eletro-siderurgia, do desenvolvimento da indústria química pesada e, de um modo geral, da utilização eficiente dos recursos minerais do Brasil”. De Gonzaga de Campos, Fonseca Costa teria assimilado “não só uma grande soma de conhecimentos sobre geologia, mineralogia, metalurgia e geografia, mas também aquele sentido grandioso de interpretar os problemas brasileiros, encarando os fatos com um aprimorado espírito de renúncia”.

Fonseca Costa recebeu, em suma, influências de família, educação e relações que o colocavam no centro das atividades técnicas, científicas e governamentais da época, sem que isto o identificasse totalmente com um grupo determinado, como por exemplo o que se congregava ao redor do Serviço Geológico. Isto sem dúvida explica, pelo menos em parte, o curso independente que o Instituto Nacional de Tecnologia assumia a respeito dos grandes temas de debate nacional da época, como o do ferro e do petróleo, e que teriam influência na própria localização do INT junto ao Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, e não mais no de Agricultura, a partir de 1934.

Fonte: Nacionalismo, iniciativa privada e o papel da pesquisa tecnológica no desenvolvimento industrial: os primórdios de um debate. Simon Schwartzman e Maria Helena Magalhães Castro. Publicado em Dados Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, Vol, 28, nº 1, 1985, pp. 89 a 111.