Por Andréa Antunes Fevereiro 22, 2022
Barragens do Brasil após 3 anos: o que foi feito após desastre em Brumadinho?
Três anos depois do desastre de Brumadinho, o Brasil parece ainda viver sob as condições anteriores a 2019. Isso porque, mesmo após a tragédia que deixou 270 mortos e seis pessoas ainda desaparecidas, as populações que vivem próximas a barragens no país continuam convivendo com o risco diário de novos rompimentos. Um dossiê do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), divulgado no último dia 19, aponta que 18 das 31 estruturas de mineração com algum nível de emergência acionado precisam passar por intervenção em suas estruturas.
O documento reuniu informações sobre a pluviosidade média sobre cada barragem, a existência ou não de plano para o período chuvoso, a performance do sistema de
drenagem, as referências a anomalias e patologias registradas, além de ações planejadas de manutenção e monitoramento. O relatório, realizado após o período de fortes chuvas que atingiram o estado neste ano, foi produzido em parceria entre o MP e a Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam), órgão vinculado ao governo de Minas Gerais. As mineradoras foram notificadas no dia 11 de janeiro.
Para o vice-presidente do Comitê Brasileiro de Barragens, Alberto Sayão, o principal problema das barragens com rejeitos é o fato de conservarem um grande volume de água. Ele afirma que os riscos de rompimento são ocasionados, em sua maioria, pelo excesso de água nos rejeitos. O especialista, que também é membro da Academia Nacional de Engenharia e professor da PUC Rio, explica que, antes de tudo, as barragens têm dispositivos de drenagem, que, em geral, “não funcionam como deveriam”.
Por isso, segundo ele, o primeiro passo para resolver o problema das barragens de rejeitos brasileiras é ter “atenção redobrada” para os dispositivos de drenagem. “Muito se falou que o acontecimento foi inédito, porque houve o fenômeno da liquefação, mas talvez se o problema dos dispositivos de drenagem funcionasse, seria menos provável a ocorrência da liquefação e, por consequência, também do desastre”, indicou Sayão, em entrevista à Sputnik Brasil.
Ele lembra que, após Brumadinho, o governo proibiu barragens construídas com o método de alteamento a montante, por ser mais sujeita à liquefação. “Isso foi uma providência para dar uma satisfação à sociedade, porque não chegou a ser muito bem discutida. Não se sabia detalhes. Acho que a decisão foi precipitada do ponto de vista da engenharia, porque a engenharia do Brasil na área de barragem é considerada uma das mais desenvolvidas”, ressaltou.
Segundo o especialista, esse tipo de barragem é a mais econômica. Ele explica que agora as mineradoras precisam realizar aportes maiores para investir em um equipamento chamado de filtro prensa, que reduz o volume de água nos rejeitos, ou para optar por outros tipos de estrutura de barragens. “Rejeito não dá lucro. Pelo contrário, é descartável, não interessa à dona da barragem. Por isso, ela tem menos atenção na construção e na manutenção dos detalhes do sistema de drenagem”, disse Sayão.
Fonte: site Suptnik Brasil