Por Andréa Antunes Dezembro 15, 2021
(Leia carta assinada por dirigentes e membros da ANE e do IBEP sobre o futuro da pós-graduação no Brasil
A Academia Nacional de Engenharia (ANE) e o Instituto Brasileiro de Estudos Políticos (IBEP) realizaram no dia 30 de novembro de 2021 um debate sobre as perspectivas futuras da pós-graduação em engenharia no Brasil. O debate foi oportuno, importante e – como em todas as atividades promovidas pela ANE – ponderado em seus posicionamentos.
Os professores Álvaro Prata, Edson Watanabe, Laurindo Leal e Lincoln Penna discorreram sobre questões cruciais relacionadas ao financiamento à pesquisa, à formação de egressos, à qualidade dos cursos, ao impacto dos profissionais na indústria de um modo geral e outros relevantes temas. O evento foi organizado pelos acadêmicos Flavio Miguez e Atila Freire, e presidido pelo presidente da ANE e do IBEP, Francis Bogossian.
Foram duas horas de debates instigantes e profícuos em que muito se enfatizou a importância do Brasil como ator mundial na geração de conhecimento e na formação de recursos humanos especializados. O Brasil é o décimo classificado na tabela do campeonato mundial de produção científica, o décimo quarto quando se fala em engenharia. Isso, apesar do relativo baixo número de cientistas (quando comparado a outros países) e do baixíssimo empenho governamental e privado no financiamento de programas vigorosos em áreas de interesse da sociedade brasileira.
A qualidade dos egressos dos programas de pós-graduação brasileiros é valorizada mundialmente, e fruto de uma política estabelecida há mais cinquenta anos pela CAPES que – com muito sucesso – apontou os caminhos, financiou a implantação e avaliou os cursos da pós-graduação nacional. Foi possivelmente a existência de um aparato de avaliação robusto que permitiu ao Brasil desenvolver um sistema de pós-graduação e pesquisa tão exitoso quanto o atual. A “avaliação” é certamente uma condição essencial para a busca de critérios de qualidade elevados. Ela permite a intercomparação entre programas nacionais e internacionais, mostrando onde melhorias e avanços podem ser buscados.
Ficou claro nos debates que, para a manutenção dos índices atuais de excelência na pós-graduação em engenharia nacional, os processos de avaliação precisam ser estimulados e aperfeiçoados. Eles não devem ser interrompidos sob qualquer justificativa. Eles são parte integrante de um esforço coletivo que vem se aperfeiçoando – como já dissemos – há anos, por pesquisadores muito sérios e devotados aos seus trabalhos. A interrupção abrupta desse processo pode resultar em desdobramentos imprevisíveis, com perdas irreparáveis, difíceis de serem recompostas em um futuro próximo.
A perda da confiança em um sistema de avaliação que se tornou respeitado por todos não pode ser permitida. Isso não serve aos propósitos mais elevados na nação. Não serve à sociedade brasileira. É urgente e necessário que a CAPES conserve sua reputação íntegra, e para isso é importantíssimo que o processo de avaliação da pós-graduação seja retomado em sua plenitude.
O Brasil possui problemas específicos de enorme urgência e importância que não serão resolvidos por soluções importadas. É preciso que esforços dedicados, por pesquisadores que conhecem os problemas que estão abordando, sejam empreendidos. E esses esforços, infelizmente, necessitarão ser realizados por gente qualificada e comprometida com a realidade nacional. Não há tempo a perder. A engenharia brasileira não pode ficar a reboque de soluções externas imperfeitas e, para isso, a pós-graduação possui um papel central. Não há tempo a perder. É necessário que profissionais altamente qualificados continuem a ser formados e, para termos essa certeza, é preciso que exista uma avaliação de alto nível. Não há tempo a perder. A avaliação da Capes precisa ser retomada, e por profissionais qualificados e experientes. Não é de bom alvitre – como diz a máxima popular – mexer em time campeão.
A pós-graduação em engenharia no Brasil se encontra aquém de suas possibilidades, muitas de suas dificuldades advêm de iniciativas que foram retardadas ou nunca executadas. Precisamos ter um país com uma sociedade menos desigual, que responda aos anseios de nosso povo. É preciso que tenhamos – a nação – um projeto muito claro, não apenas técnico, mas, político, e de ampla abrangência temporal e espacial.
A ANE e o IBEP reafirmam suas convicções de que um país soberano não pode abdicar de seu próprio destino, oferecendo a atores externos um protagonismo que não lhes pertence. A pós-graduação em engenharia molda mentes brilhantes, indispensáveis a qualquer projeto de nação que se entenda como autônomo e soberano. Um grande desafio é que o Brasil consiga que o sistema de Pós-Graduação continue a avançar e que sejam dadas condições para que essas mentes brilhantes ajudem a desenvolver o país. Preservemos, pois, as nossas excelentes instituições de ensino e pesquisa em engenharia.
Assista a versão completa do debate no Canal da ANE no YouTube.
https://www.youtube.com/watch?v=6JP2OC4sGcA
Uma versão resumida do evento pode ser vista em:
https://www.youtube.com/watch?v=ETLTNR4lrVk&t=9s
Atenciosamente,
Álvaro Prata, UFSC, Membro da ABC e Membro Titular da ANE Atila Freire, UFRJ, Membro Titular da ANE Edson Watanabe, UFRJ, Membro da ABC e Membro Titular da ANE Flavio Miguez de Mello, Vice-presidente da ANE Francis Bogossian, Presidente da ANE e do IBEP Laurindo Leal, USP, Membro Titular da ANE Lincoln Penna, Vice-presidente do IBEP
Andréa Antunes2021-12-16T12:02:34-03:00 )