Centro de pesquisas tem recursos garantidos até 2027

A Academia Nacional de Engenharia segue na luta pela preservação do Centro de Pesquisas de Energia Elétrica CEPEL, cujo futuro parece incerto desde a privatização da Eletrobras em 2021,  já que pela lei os recursos para manutenção do centro estão garantidos somente até 2027. No último dia 27, integrantes do Grupo CEPEL da ANE, vinculando ao Comitê Permanente de Energia – CPE, se reuniram com o vice-presidente da Eletrobras, Juliano Dantas, para debater o futuro do CEPEL.

O posicionamento do vice-presidente da Eletrobras deixou a comitiva da ANE otimista. Em sua fala, Juliano Dantas reconheceu que o CEPEL tem grande capacidade na área de software e afirmou que o CEPEL deverá ser autossuficiente financeiramente. Destacou ainda que os modelos setoriais deverão ser passados para um órgão neutro tipo ANEEL ou ONS, por pressão de agentes externos à Eletrobras; que o centro de pesquisa tem uma governança externa muito boa e que a governança interna deverá ser ajustada. Além disso, disse que a centralização do processo decisório na holding deve criar demanda para o CEPEL na área de P&D.

Ainda de acordo com o vice-presidente Juliano Dantas, para a Eletrobras o CEPEL será um parceiro estratégico na área de P&D, sendo líder, mas não terá exclusividade. De acordo com Dantas, os planos da Eletrobras para o CEPEL não contemplam pesquisa básica ou pesquisa em projetos de longo tempo de maturação e os  Laboratórios de P&D  deverão ser tratados como negócios distintos e ser autossuficientes. Juliano Dantas explicou que os laboratórios vão passar por uma análise mais aprofundada e caso sejam considerados estratégicos, mas não rentáveis, terão que ter fonte de recursos setoriais para assegurar seu funcionamento e desempenho do papel estratégico para o setor elétrico do País.

Dantas concluiu destacando que o CEPEL carece de uma área dedicada a fazer a interface comercial entre os clientes setoriais e a Unidade Adrianópolis e informou que está em andamento a estruturação de uma área de gestão de negócios para se dedicar à venda de serviços que ficará a cargo do diretor geral interino, Pedro Jatobá.

Apesar de animado com o engajamento de Juliano Dantas com o tema CEPEL, o coordenador da comissão da ANE, o diretor Eduardo Serra, se mostrou preocupado com o que definiu como “prospecção de novas tecnologias”. “Estas prospecções, como mencionado pelo Juliano Dantas, deixariam de ser prioritárias e deveriam ser suportadas por recursos de órgãos de financiamento. Entretanto, a menos que eu esteja enganado, a nova Eletrobras deveria destinar um percentual da sua receita operacional líquida para projetos de P&D. Será que parte destes recursos não poderiam ser destinados a para projetos de maior risco envolvendo a participação dos laboratórios?”, questiona.

“Na minha opinião, essa reunião consolidou o entendimento que tivemos em reunião anterior com o Diretor Márcio Szechtman, na qual foi transmitido o interesse da Eletrobras em continuar a apoiar o CEPEL em suas atividades de pesquisa e desenvolvimento. Particularmente, fiquei satisfeito em saber que a atual direção da Eletrobras pretende implantar um sistema integrado de gerenciamento de recursos dos programas de pesquisa e desenvolvimento das empresas do grupo Eletrobras, centralizado no CEPEL, e em colaboração com universidades, empresas de base tecnológica e outros centros de pesquisa”, avaliou o Acadêmico Djalma Falcão.

Também participaram da reunião o presidente da ANE, Mário Menel, o diretor Guilherme Jorge Velho e o engenheiro Agenor Mundim, membro do Comitê Permanente de Energia.

CEPEL/ANE

A Lei nº 14.182, de 12 de julho de 2021, que instituiu a desestatização da Eletrobras, estabeleceu entre as condições para tal a “manutenção do pagamento das contribuições associativas ao Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (CEPEL), pelo prazo de 6 (seis) anos, contado da data da desestatização”. Restam, portanto, 4 anos de garantia de sustentação plena do Centro via Eletrobras. Para se adaptar à nova realidade, o Centro buscará, de um lado, a confirmação do interesse da Eletrobras em suas atividades. E por outro lado, ampliar a participação de outros atores do setor, quais sejam geradoras, transmissoras e distribuidoras de energia elétrica, bem como, até mesmo, habilitar-se a fundos governamentais de apoio a P&D.

Ainda na fase de tramitação do projeto de lei no Congresso, a Academia Nacional de Engenharia- ANE vinha se preocupando e discutindo sobre o futuro do CEPEL por entender que, o Brasil não pode prescindir da instituição de pesquisa e desenvolvimento de excelência, implantada há quase 50 anos, devotada ao setor elétrico nacional. Para tanto, o Comitê Permanente de Energia      da ANE preparou e divulgou o relatório “O Futuro do CEPEL” (abril/2021) com várias recomendações.

A reunião realizada no último dia 27, entre a Diretoria de Inovação e P&D da Eletrobrás e a Academia Nacional de Engenharia-ANE, tinha por objetivo propiciar que a ANE manifestasse a sua preocupação quanto à sustentabilidade financeira futura do CEPEL e   enfatizasse a importância do Centro para o setor elétrico brasileiro.

Outro objetivo era saber da Eletrobras como ela pretende usar o CEPEL, possivelmente, até mesmo não se restringindo aos aportes como associada-mantenedora como estabelecidos na lei de privatização de 2021. A obrigatoriedade destes aportes se encerrará em julho de 2027, sendo que a partir do ano subsequente à promulgação da lei de privatização da Eletrobrás, é permitida a redução a cada ano de 1/6 dos aportes.

Na Eletrobras, o CEPEL reporta-se diretamente à nova Vice-Presidência de Inovação, P&D, Digital  e TI, cujo diretor recém empossado é Juliano de Carvalho Dantas. Juliano é engenheiro mecânico, formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) com o Master of Science in Management (Sloan Fellow) pela escola de negócios de Stanford (EUA) e concluído o Advanced Management Program (AMP) pela INSEAD, França. De novembro de 2019 a dezembro de 2021, ele dirigiu o Cenpes (Centro de Pesquisas da Petrobras) como gerente executivo e integrou, até setembro de 2022, a Diretoria Executiva da Petrobras como diretor estatutário de Transformação Digital, Tecnologia e Inovação.

Segundo informações, a orientação da Diretoria de Inovação é que o CEPEL possa gerar valor para a Eletrobras, não apenas valor financeiro e, no caso dos laboratórios, que o CEPEL também amplie a sua atuação no mercado não-Eletrobrás e em programas governamentais de apoio à pesquisa.

A ANE oferece apoio político-institucional ao CEPEL, mas tendo consciência de que o corpo técnico do Centro está mais bem aparelhado para fazer a própria defesa de suas atividades como braço tecnológico do setor elétrico brasileiro, junto à Eletrobras, visto seu melhor conhecimento dos atuais recursos humanos e laboratoriais.