Arno Blass

Posse: 1994
Cadeira: 138
Patrono: Lélio Itapoambyra Gama

Nascido em Porto Alegre em 1939, formou-se em Engenharia Mecânica na Universidade do Rio Grande do Sul em 1962. Frequentou também o curso de Matemática, que, todavia, deixou inconcluso. Após breve passagem pela iniciativa privada, trabalhou, por um ano, no Grupo de Materiais do Instituto de Pesquisas e Desenvolvimento do Centro Técnico de Aeronáutica, hoje Centro Técnico Aeroespacial.

Com a criação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e de sua Escola de Engenharia Industrial, transferiu-se para Florianópolis em 1964, na condição de instrutor, com vistas a assumir a regência de cátedra, nos termos de um convênio de cooperação técnica firmado pela UFSC com a UFRGS. Passou, ali, a integrar o grupo de jovens docentes que, sob a liderança de Caspar Erich Stemmer, viriam a implementar concepções inovadoras, para a época, que logo tornaram a nova escola conhecida e respeitada no cenário nacional. Ministrou disciplinas relacionadas com os processos de conformação mecânica; implantou em 1966, e dirigiu durante um ano, o Centro de Formação Prática e Aperfeiçoamento, a quem competia gerir uma programação pioneira de estágios obrigatórios, que se estendia ao longo de todo o curso. Infelizmente, a Reforma Universitária implantada no país em 1970/71 inviabilizou esta concepção de estágios, substituída por outra menos abrangente.

Em 1967 afastou-se para obter o Mestrado na COPPE/UFRJ. De volta a Florianópolis, integrou a comissão que planejou a criação do Mestrado em Engenharia Mecânica da UFSC, lançado já em 1969, o primeiro curso de pós-graduação stricto sensu da universidade. Em seu primeiro ano de oferecimento ministrou Análise de Tensões e Plasticidade e posteriormente orientou uma dissertação sobre a extrusão por impacto de aço, a primeira defendida no novo curso, em agosto de 1970.

Doutorou-se pelo Imperial College of Science and Technology da Universidade de Londres em 1976. Sua tese, sobre a viabilidade do processo de laminação periférica, que interessava à Rolls Royce, envolvia a aplicação do método dos elementos finitos a processos envolvendo não-linearidades materiais e geométricas. Por interesse pessoal, como aluno ouvinte, aproveitou as oportunidades ímpares de formação em materiais poliméricos que lhe eram oferecidas no Imperial College, frequentando as aulas de R. M. Ogorkiewicz e J. G. Williams, entre outros.

Retornando à UFSC, acumulou, durante três anos, a Chefia do Departamento de Engenharia Mecânica e a Coordenação do Mestrado em Engenharia Mecânica. Durante este período, e em anos subsequentes, foi o executor local do Convênio de Cooperação Técnica firmado entre a UFSC e a Universidade de Aachen, envolvendo recursos da Sociedade Alemã de Cooperação Técnica (GTZ) e da SUBIN, hoje Agência ABC, do Ministério de Relações Exteriores; foi executor, também, de convênios de apoio institucional do BID, da FINEP e da CNEN.

Reconduzido à Coordenação da PG em Engenharia Mecânica, exerceu-a durante um período total de doze anos, até 1990. Em 1980 foi lançado o Doutoramento em Engenharia Mecânica, mais uma vez, o primeiro da UFSC. Durante seu tempo de coordenação, a Pós-Graduação em Engenharia Mecânica da UFSC foi sistematicamente incluída entre as melhores do país, nas avaliações da CAPES, e como a melhor, no Ranking Playboy, que então era anualmente divulgado por esta revista.

Paralelamente, participou de outras atividades importantes, dentro e fora da UFSC. Integrou o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão, a Comissão Permanente de Pessoal Docente e, durante um total de quatro mandatos, o Conselho Editorial da Editora da UFSC, onde se destacou pelo amplo espectro de interesses, tendo emitido mais de duzentos pareceres. Por duas vezes (em 1980 e 1986) participou da Comissão Organizadora do CBECIMAT – Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais.

Externamente à UFSC, integrou, ao final da década de 70, a Comissão Estadual de Tecnologia e Meio Ambiente do Estado de Santa Catarina. Na esfera federal, integrou o Comitê Assessor de Engenharia Mecânica, Aeronáutica, Naval e de Produção do CNPq, e, em seguida, o efêmero Conselho de Coordenação Técnica e Científica do mesmo órgão, ao início da Nova República. Foi consultor da CNEN, da SESu/MEC e da FINEP, bem como de programas governamentais, como o PRONEX e o PADCT, no qual coordenou, durante algum tempo, o Grupo de Trabalho de Tecnologia Industrial Básica. Na SESu/MEC foi, por três vezes, membro da Comissão de Especialistas do Ensino de Engenharia. Na CAPES, presidiu durante quatro anos o segmento Engenharias, responsável pela supervisão da avaliação dos candidatos a bolsas no Exterior, e pela avaliação de mais de uma centena de cursos de pós-graduação desta grande área. Nesta condição, ainda, representou o Brasil, pelo segmento das Engenharias, no Seminário Latinoamericano de Enseñanza de Posgrado en Ciencias Básicas e Ingenierías, realizado em Caracas em 1982. Participou, também, de missão da CAPES ao Japão e Israel, em 1983, com o objetivo de detectar possibilidades de intercâmbio de pós-graduandos. Em Santa Catarina, em 2003, superintendeu o julgamento dos processos encaminhados, na área das Engenharias, à FUNCITEC – Fundação de Ciência e Tecnologia do Estado de Santa Catarina.

Ao ensejo de uma reforma curricular do Curso de Engenharia Mecânica da UFSC, no início da década de 80, propôs a criação de uma disciplina eletiva sobre Processamento de Polímeros. Iria implantá-la mais tarde (1982). Ante a dificuldade de encontrar material didático adequado ao caráter abrangente, mas introdutório, da disciplina (encontrava-o em abundância na literatura em língua alemã, o que não atendia à maioria dos alunos), começou a preparar o que viria a redundar na publicação, na Série Didática da Editora da UFSC, da primeira edição de seu livro “Processamento de Polímeros” (1985, 256 pgs.).

A decorrente disponibilidade de bibliografia em língua portuguesa sobre o assunto fez com que disciplinas similares surgissem em outros cursos de Engenharia Mecânica ou de Materiais do país. O livro teve ampla demanda, e uma nova edição se fez necessária. Com modificações profundas, ela veio a lume em 1988, com 313 páginas. Três anos depois, um programa de cursos promovido pela ABPol em colaboração com o SEBRAE/SP exigiu a reimpressão da obra por estas entidades, em coedição com a EdUFSC. Quando da realização do PPS 2004 – Encontro Regional das Américas da Polymer Processing Society, em Florianópolis, foi o autor homenageado com uma placa comemorativa, “por ter sido autor do primeiro livro sobre Processamento de Polímeros editado no Brasil, o qual se tornou importante contribuição à comunidade brasileira de engenharia e ciência de polímeros”.

É membro da Associação Brasileira de Engenharia e Ciências Mecânicas (ABCM), que presidiu em 1979/81, quando se realizou o 1º. SIBRAT (Simp. Bras. de Tubulações e Vasos sob Pressão); da Associação Brasileira de Ensino da Engenharia (ABENGE), da Associação Brasileira de Polímeros (ABPol) e da Academia Nacional de Engenharia (ANE). Foi membro do Conselho Editorial da Revista Brasileira de Ciências Mecânicas e da revista Technische Mechanik. Traduziu do alemão os livros “Processamento de Dados”, de G. Rahmstorf, e “Técnica da Conformação”, de Klaus Grüning, publicados pela Editora Polígono ao início da década de 70. Fez a revisão técnica da tradução dos livros “Mecânica dos Sólidos”, de Egor Popov, e “O Milagre incompreendido – Energia nuclear na Alemanha”, de K. Winnacker e K. Wirtz, publicados pela Editora Edgard Blücher, em fins da década de 70.

É autor de “Caspar Erich Stemmer – Administração, Ciência e Tecnologia”, sexto volume da Biblioteca Anísio Teixeira, com que a CAPES homenageia figuras de destaque na consolidação da pós-graduação no Brasil, publicado pela Editora Paralelo 15, de Brasília, em 2002, com reimpressão em 2003. Uma segunda edição foi lançada pela Editora da UFSC em 2015. É, também, o tradutor de “A Escalada da Ciência” (“The Ascent of Science”), de Brian L. Silver, publicado pela Editora da UFSC em 2003 (772 páginas), que obteve boa receptividade da crítica especializada. Uma segunda edição foi lançada em 2008.